Cirurgia da raquialgia crónica

Nos casos de raquialgia crónica, em particular se os sintomas são graves e incapacitantes, deverá ser realizada uma ressonância magnética para caraterizar as alterações estruturais da coluna vertebral e excluir a existência de outras patologias, como fraturas, tumores ou infeções. Habitualmente os exames complementares permitem identificar 3 grandes grupos de situações patológicas:

  • Doença degenerativa: a desidratação discal (discartrose) provoca colapso do disco e menor capacidade para amortecer as cargas e daí resulta inflamação e dor; pode haver hérnia discal associada e é muitas vezes a razão de persistência da raquialgia em doentes operados a hérnia discal; na evolução da doença degenerativa discal surgem posteriormente artroses interfacetárias, perda da lordose lombar e escoliose.
  • Doença inflamatória das facetas articulares: nestes casos não há doença discal ou lesões degenerativas significativas e as dores têm características inflamatórias (pior em repouso e rigidez matinal);
  • Doença postural: surge nos mais jovens e pode estar relacionada com maus hábitos posturais, escoliose dorso-lombar ligeira, excesso de peso e fraqueza da musculatura paravertebral.

Quando a doença é degenerativa poderá estar indicada uma solução cirúrgica que passa habitualmente pela realização de uma fusão intervertebral. Alguns cirurgiões aconselham a colocação de próteses discais que permitem manter a mobilidade intervertebral. Na minha opinião, esta solução só faz sentido em situações de doença degenerativa discal de um único nível e numa fase pouco avançada. Estou convencido que o tratamento conservador realizado de forma adequada consegue resolver a grande maioria destas situações.
A opção da fusão intervertebral deverá indicada nas seguintes situações de doença degenerativa com sintomas incapacitantes apesar da realização de tratamento conservador durante 1 ano:

  • Doença degenerativa discal grave a 1 ou 2 níveis,
  • Doença degenerativa discal a 1 ou 2 níveis após tratamento cirúrgico de hérnia discal
  • Doença degenerativa facetária com sinais de instabilidade
  • Doença degenerativa com deformidade: perda da lordose lombar ou escoliose que provoquem alteração do balanço sagital ou coronal

Na doença degenerativa discal cervical o tratamento preconizado é a fusão intervertebral por abordagem anterior. (ver tratamento da hérnia discal cervical)

Na doença degenerativa discal lombar e na doença degenerativa facetária com instabilidade o tratamento cirúrgico que recomendo é a artrodése transpedicular posterior complementada com a fusão intersomática transforaminal (TLIF) (ver tratamento cirúrgico da espondilolistese) realizado com técnicas minimamente invasivas. Neste tipo de situações, em que estamos a tratar doentes com predomínio de dor lombar é particularmente importante a utilização de técnicas menos invasivas para reduzir o trauma cirúrgico e as eventuais queixas de dor lombar que daí poderão advir.

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Discartrose L5-S1 com grave artropatia facetária tratada com fusão L5-S1 combinada por técnica minimamente invasiva

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Discartrose L4-5 pós-laminectomia tratada com fusão L4-5 combinada por técnica minimamente invasiva

Na doença degenerativa com deformidade, o tratamento cirúrgico consiste na descompressão radicular, na correção da deformidade e na estabilização da coluna vertebral.