Raquialgias crónicas

 Sempre que as raquialgias persistem por mais de 12 semanas ou surgem com crises recorrentes, podem ser consideradas crónicas. Em muitos casos não se consegue definir uma causa direta, um traumatismo ou um esforço exagerado, mas a nossa coluna alerta-nos para a existência de algo que devemos corrigir. Habitualmente, ocorre um efeito cumulativo de vários fatores:

  • Fatores de risco individuais: idade, obesidade, tabagismo;

  • Fatores de risco genéticos: podem condicionar maior fragilidade dos tecidos;

  • Fatores de risco físicos: atividade profissional, postura, mecânica corporal, exercício físico;

  • Fatores de risco psico-sociais: stress, depressão, somatização, satisfação laboral.

Nos casos de raquialgia crónica, em particular se os sintomas são graves e incapacitantes, deverá ser realizada uma ressonância magnética para caraterizar as alterações estruturais da coluna vertebral e excluir a existência de outras patologias, como fraturas, tumores ou infeções. Habitualmente os exames complementares permitem identificar 3 grandes grupos de situações patológicas:

  • Doença degenerativa: a desidratação discal (discartrose) provoca colapso do disco e menor capacidade para amortecer as cargas e daí resulta inflamação e dor; pode haver hérnia discal associada e é muitas vezes a razão de persistência da raquialgia em doentes operados a hérnia discal; na evolução da doença degenerativa discal surgem posteriormente artroses interfacetárias, perda da lordose lombar ou cervical e escoliose.

  • Doença inflamatória das facetas articulares: nestes casos não há doença discal ou lesões degenerativas significativas e as dores têm características inflamatórias (pior em repouso e rigidez matinal);

  • Doença postural: surge nos mais jovens e pode estar relacionada com maus hábitos posturais, escoliose dorso-lombar ligeira, excesso de peso e fraqueza da musculatura paravertebral.

O tratamento das Raquialgias crónicas é complexo e pode necessitar de cuidados prolongados que incluem medidas preventivas, reabilitação muscular e terapêuticas médicas ou cirúrgicas e apoio psicológico.
Na maioria dos casos as raquialgias crónicas podem ser evitadas com medidas preventivas e hábitos de vida saudáveis. As medidas preventivas fundamentais são:

  • Cuidados com postura: o indivíduo deve sentar e estar de pé de forma adequada mantendo a coluna vertebral com alinhamento fisiológico; deve evitar-se estar sentado por períodos prolongados e permanecer por períodos prolongados em posturas incorretas;

  • Cuidados com a mecânica corporal, sobretudo da manipulação de cargas: quando é necessário levantar um objeto pesado devem fletir-se os membros inferiores e evitar fletir a coluna lombar; devem evitar-se os movimentos de rotação do tronco;

  • Manter uma alimentação saudável e controlar o peso corporal;

  • Evitar fumar: o tabaco aumenta os processos degenerativos e interfere com o aporte sanguíneo muscular;

  • Realizar exercício físico regular (caminhada, bicicleta, cardio-fitness, natação, hidroginástica e Pilates): o exercício aeróbico permite manter uma boa condição física e os exercícios específicos para fortalecer a musculatura paravertebral e flexibilizar as articulações permitem melhorar a resistência ao esforço do dia-a-dia e reduzir a probabilidade de lesões vertebrais;

  • Evitar situações de stress, que aumentam a tensão muscular, ou compensá-las com períodos de relaxamento e massagens corporais.

No caso de raquialgias agudas persistentes ou em situações de agudização de lombalgias crónicas poderá estar indicada a realização de fisioterapia. Nestas situações poderão estar indicados tratamentos de tração pélvica, massagem, tratamento com gelo ou calor, ultrassons, estimulação muscular elétrica e exercícios de estiramento muscular.

Com este tipo de tratamento conservador, a grande maioria das situações de raquialgia por doença postural resolve-se ou controla-se, evitando que se torne incapacitante.

Alguns casos de raquialgias crónicas por patologia degenerativa podem tornar-se muito incapacitantes e persistir apesar de todo o tratamento médico e de reabilitação e nestes casos poderá haver indicação para realizar outro tipo de tratamentos mais invasivos.

O estudo destes casos deverá começar pela realização de outros testes de diagnóstico para tentar perceber qual a estrutura responsável pela persistência das queixas. Estes testes permitem avaliar os discos intervertebrais e as articulações interfacetárias e tentar perceber qual a importância das lesões destas estruturas no quadro álgico do doente. A discografia consiste na injeção de liquido com contraste por via percutânea e é essencialmente diagnóstica, permitindo perceber se determinado disco intervertebral é doloroso e qual o seu grau de degenerescência.
As infiltrações facetárias e os bloqueios da enervação facetária são feitas por via percutânea são realizadas por via percutânea e consistem na administração de analgésicos e corticoides para aliviar a inflamação destas estruturas. Têm importância no diagnóstico e podem aliviar por um período mais ou menos prolongado as queixas álgicas.

No caso das raquialgias crónicas de origem inflamatória, se identificamos inflamação das facetas articulares através da ressonância podem ser feitas infiltrações facetárias e obter o alívio dos sintomas por um período de 6 a 12 meses.

Quando a doença é degenerativa poderá estar indicada uma solução cirúrgica que passa habitualmente pela realização de uma fusão intervertebral. Alguns cirurgiões aconselham a colocação de próteses discais que permitem manter a mobilidade intervertebral. Na minha opinião, esta solução só faz sentido em situações de doença degenerativa discal de um único nível e numa fase pouco avançada. Estou convencido que o tratamento conservador realizado de forma adequada consegue resolver a grande maioria destas situações.

A opção da fusão intervertebral deverá indicada nas seguintes situações de doença degenerativa com sintomas incapacitantes apesar da realização de tratamento conservador durante 1 ano:

  • Doença degenerativa discal grave a 1 ou 2 níveis,
  • Doença degenerativa discal a 1 ou 2 níveis após tratamento cirúrgico de hérnia discal

  • Doença degenerativa facetária com sinais de instabilidade

  • Doença degenerativa com deformidade: perda da lordose lombar ou escoliose que provoquem alteração do balanço sagital ou coronal